Apesar da revisão para baixo nas estimativas de inflação, índice oficial ainda supera teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional
O mercado financeiro voltou a revisar para baixo a projeção da inflação para 2025, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Banco Central. A estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) caiu de 4,0% para 3,9%, marcando a terceira redução consecutiva. Apesar disso, a inflação oficial continua acima do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,0%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Na prática, isso significa que, embora os analistas do mercado estejam mais otimistas quanto à trajetória dos preços, ainda há pressão inflacionária suficiente para manter o índice fora do intervalo desejado pelo governo. A resiliência de alguns preços administrados, como energia elétrica e combustíveis, e a recente alta dos alimentos são fatores que continuam influenciando o comportamento do IPCA.
“O movimento de queda nas expectativas reflete principalmente o efeito defasado da política monetária e a desaceleração de alguns núcleos inflacionários. Mas ainda é cedo para afirmar que o IPCA vai convergir para o centro da meta”, avalia Ana Ribeiro, economista-chefe da XYZ Investimentos.
Além disso, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,5% ao ano — decidida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) — também indica cautela por parte do Banco Central. A autoridade monetária segue monitorando a atividade econômica, o cenário externo e os riscos fiscais domésticos antes de promover novos cortes na taxa de juros.
Para os próximos meses, o mercado aposta em uma trajetória de inflação mais controlada, mas ressalta que incertezas no campo fiscal e a volatilidade cambial podem inverter essa tendência. A sinalização do governo em relação ao controle de gastos e à execução do arcabouço fiscal será crucial para manter a confiança e ancorar as expectativas inflacionárias.
Inflação pesa mais sobre os mais pobres
Embora a desaceleração da inflação seja uma boa notícia em termos macroeconômicos, os efeitos ainda são sentidos com mais intensidade pelas famílias de menor renda. Isso porque os grupos de menor poder aquisitivo destinam a maior parte do orçamento a itens básicos como alimentação, transporte e energia — justamente os que mais têm pressionado o IPCA nos últimos meses.
Além disso, o recente reajuste de tarifas públicas e o encarecimento do transporte impactam proporcionalmente mais as famílias de baixa renda, que não conseguem recorrer a alternativas de consumo ou serviços privados. Mesmo com a redução na expectativa geral de inflação, a percepção da população mais pobre é de que o custo de vida continua subindo.
A desigualdade no impacto inflacionário é um alerta para formuladores de políticas públicas. Especialistas defendem que, além do controle monetário, é necessário fortalecer programas de transferência de renda e ampliar o acesso a alimentos e serviços básicos como forma de mitigar os efeitos da inflação sobre os mais vulneráveis.











